Sites Grátis no Comunidades.net

 webnames


Nintendo Wii

nintendo-wii

De segunda a sábado, dez quilômetros de corrida. Quatro vezes por semana, uma hora de natação. Todos os dias, duas horas de musculação. Com uma rotina dessas, poucos são os tendões que sobrevivem intactos por muito tempo. O do calcanhar direito do triatleta Renan Machado não sobreviveu — após um fim de semana de treinos intensos ele simplesmente rompeu. Para se recuperar, o atleta passou a dedicar duas horas semanais à fisioterapia. O esporte, contudo, não ficou no banco de reservas. Às sessões tradicionais de fisioterapia foram adicionados 20 minutos de exercícios do WiiSports, um dos jogos do console Nintendo Wii. “Você entra na realidade do jogo e isso facilita muito. Inconscientemente reaprendi a fazer alguns movimentos que não conseguia fazer antes.”

Junto com Machado, desde agosto passado outras 30 pessoas estão experimentando a novidade na clínica de fisioterapia da Universidade Cidade de São Paulo (Unicid). Entre elas, estão vítimas de acidente vascular cerebral e paralisia cerebral. O fisioterapeuta Fábio Navarro Cyrillo, que supervisiona os estudos com o Wii na clínica, está animado com os resultados preliminares. De acordo com ele, além de mais motivados, os pacientes já apresentam ganhos de flexibilidade e força quando comparados com pessoas que apenas submetem-se à fisioterapia tradicional. “Mas o videogame da Nintendo não substitui a fisioterapia comum. É apenas um aditivo”, pondera.

 

E que aditivo. Lançado nos Estados Unidos em 19 de novembro de 2006, o console causou uma verdadeira reviravolta no mercado de games. Isso porque ele chegou com a proposta de tirar os jogadores do sofá e potencializar a interação com a realidade virtual. Para isso, a Nintendo deu adeus aos milenares joysticks e criou o Wiimote, um controle bem parecido com aquele da televisão, mas com Bluetooth, acelerômetro e um giroscópio. Esses ingredientes capacitaram o dispositivo a detectar os movimentos dos jogadores. Assim, em vez de privilegiar quem tem os dedos mais habilidosos, o console dá pontos para quem consegue (ou tem coragem) se desdobrar mais. Graças a isso, segundo pesquisa desenvolvida na Universidade John Moore (Reino Unido), quem pratica Wii gasta 60 calorias a mais do que quem é craque em games mais sedentários, como o Xbox.

Motivado por essa ideia, o professor de educação física Márcio Gagliazzi criou até uma nova modalidade esportiva: o Fit Game. Nas aulas, os alunos jogam boxe, tênis e vôlei. Tudo sem despregar o olho de um telão e tirar os pés da balance board do Wii, uma espécie de balança com sensores de pressão. “Isso incentiva o usuário a não trapacear na hora de se exercitar. Só dá certo se ele fizer o movimento corretamente”, percebe A proposta já está virando mania em três academias cariocas. Apesar de não ser muito afeita a videogames, Neusa Maciel, de 56 anos, não conteve a curiosidade e freqüentou uma aula de Gagliazzi. Na hora decidiu pegar de volta o console que deu aos filhos de presente. Hoje, seis meses depois, ela tem aulas particulares do esporte duas horas por semana. “Com a idade, seu reflexo fica mais lento, perde a agilidade motora e o equilíbrio. O Wii está me ajudando a reverter isso”, conta. “É uma ginástica para os meus neurônios também.”

Check-up no console

Se dona Neusa morasse no Japão, provavelmente seu médico, em breve, poderia monitorar a saúde dela, pasmem, por meio do videogame da Nintendo. Previsto para ser lançado ainda este mês no mercado nipônico, o Health Checkup Channel é um aplicativo para Wii Fit que arquiva dados sobre a condição física do paciente enquanto ele joga e os envia para o médico. Por aqui, a novidade é o Personal Trainer: Walking, que mostra o desempenho do usuário na tela e compara com o de outros participantes. O jogo deve chegar às prateleiras latino-americanas no fim de maio.

Como Tom Cruise

Fissurado por controles sensíveis ao movimento, Johnny Lee, pesquisador de interação entre humano e computador, da Universidade Carnegie Mellow, nos Estados Unidos, há muito faz traquinagens com acelerômetros. “Eles providenciam um senso de reatividade com o computador melhor e mais atrativo que o usual”, diz. Sem qualquer pretensão científica, Lee comprou um Wii e se espantou com a performance da câmera de infravermelho do controle. Sem demora, todas as boas lembranças da pesquisa com acelerômetros vieram à tona e Lee vislumbrou no inocente dispositivo uma instigante ferramenta para brincadeiras com a realidade virtual.

Um mês depois, o pesquisador acabou desenvolvendo uma tela multitoque de baixo custo e até um sistema de interação com o computador semelhante àquele usado por Tom Cruise no filme Minority Report, de Steven Spielberg, entre outros. Para isso, Lee basicamente usa um controle de Wii, uma rede Bluetooth e alguns programas que oferece para download em seu site pessoal. “De longe, a grande vantagem é o quão barato e fácil é criar programas que usam os dados do controle”, observa. “É até possível fazer um dispositivo semelhante usando o hardware de um sensor ainda cru, mas isso seria mais caro e menos seguro que toda a bagagem do Wii.”
Toda essa criatividade tem rendido a Lee uma porção de seguidores mundo afora. Basta digitar Johnny Lee no YouTube para ter uma ideia. Um de seus vídeos já contabiliza mais de seis milhões de visualizações e é grande o número de pessoas que seguem as receitas das invenções e colocam o registro no site. E, se ainda não tem obras maiores, muitos discípulos já têm feitos tão interessantes quanto as proezas dele.

Arte sobre rodas

Um deles é o mestrando da Universidade de Nova York, Younghyun Chung. Baseando-se na tela multitoque de Lee, ele criou um sistema que possibilita que tetraplégicos utilizem a cadeira de rodas para criar obras de arte digitais. No Digital Wheel Art, como o projeto foi batizado, um sensor infravermelho é acoplado à cadeira de rodas, o Wiimote detecta os movimentos por meio de sua câmera e envia os dados para o software desenvolvido por Chung, que, por sua vez, projeta o desenho em uma tela. “Acredito que a arte não é apenas a estrutura final, mas também o momento vivenciado pelo artista enquanto trabalha naquilo. O sistema reproduz essa idéia — possibilita que os pacientes se expressem para além de seus desafios físicos”, filosofa. Por isso, ele acredita que essa pode ser uma boa técnica para terapia ocupacional.

“Para as crianças, aprender a usar a cadeira de rodas é um processo muito dolorido e chato. A Digital Wheel Art permite que esse aprendizado seja mais divertido.”

Música para Wii

Inspirado pela imaginação de Lee, o engenheiro de software do Google Ken Moore, que vive em Seattle, nos Estados Unidos, e também é músico (já tocou percussão em um grupo de samba na Finlândia), criou o Wii Theremin. Ele é uma versão high-tech do Theremin, um dos primeiros instrumentos eletrônicos do mundo, mas que ainda dá um toque misterioso a algumas músicas, como a canção Eu, da banda Pato Fu.

O equipamento original possui duas antenas e dois osciladores de alta freqüência, que produzem corrente elétrica. Quando o músico aproxima a mão de uma dessas antenas, a freqüência é alterada e é transmitida para um alto-falante que produz o som. Para tocar o Wii Theremin, Moore utiliza uma luva equipada com sensores infravermelho e LED. O Wiimote transmite o movimento das mãos, via Bluetooth, para um PC que interpreta a posição vertical da mão esquerda em tom e a posição horizontal da direita em volume. Esses dados são convertidos em arquivo MIDI e enviados para um sintetizador que produz os sons. “É como aprender a tocar violino, você não pega um e sair tocando. Alguns amigos meus, que são muito bons em música, ainda dizem que erro algumas notas”, segreda.

Em Newark, também nos Estados Unidos, algumas dezenas de crianças e adolescentes, da St. Philips Academy, também estão experimentando música por meio do Wii. As aulas são parte de uma parceria entre a Associação Nacional para Ensino de Música nos Estados Unidos (Menc), que providenciou o equipamento para escolas de ensino fundamental em 51 cidades americanas.